O longa é escrito e dirigido pelo paranaense Aly Muritiba. Trata-se de uma escrita não muito inventiva quanto a trama, visto que é uma típica história de vingança. Todavia, o filme tem um quê sombrio e perturbador que instiga muito o espectador. Os planos são demasiadamente longos e sem muita movimentação de câmera. Isso promove uma dúvida enorme sobre o que vai acontecer, pois o personagem desde o início demonstra suas mudanças depois da descoberta. Nesse quesito, o roteiro acerta muito. O arco dramático do protagonista é muito conciso, apresentando todos os elementos necessários para um início, um desenvolvimento e uma conclusão bem feitos. O final pode não ser muito condizente com o tom que o filme apresenta durante a metragem, porém cumpre perfeitamente com a jornada do personagem. Este é interpretado por Fernando Alves Pinto que se mostra um excelente ator, através de pequenos gestos e expressões que põem em cheque o conceito que o público tinha da moral de seu protagonista. É visível como o personagem é o herói da história, mas parece, a todo o momento, que vai fazer algo ruim. Por isso, torcemos para ele ao mesmo tempo que não. Essa característica esférica do personagem só é possível devido ao excelente trabalho do ator. Abaixo dele está Lourinelson Vladimir. Este apresenta uma atuação sólida, mas peca em alguns aspectos. Uma exagerada gestual aqui, outra ali, mas nada que comprometa a veracidade de seu personagem. Os conflitos por quais passa são bem expressos em tela.
Os elementos visuais do filme impressionam. O início é muito inteligente: somente através de fotos, objetos e vídeos sentimos o peso da saudade de uma mulher querida. Além disso, a paleta pálida inicial remete a um ambiente sem vida e sem propósito. Tal paleta só viria a mudar no momento da descoberta da traição, onde os planos escurecem e a iluminação promove um jogo de sombras interessante. E esse ambiente mais sombrio acompanha o filme inteiro, ajudando a potencializar a tensão proposta pela premissa. O filme passa-se numa espécie de subúrbio, portanto pode ser caracterizado como um drama suburbano. Isso possibilita um excelente trabalho do diretor de fotografia, visto que os planos abertos são muito limpos e a qualidade da imagem impressiona. No quesito visual/técnico o longa lembra muito o excelente "O Lobo Atrás da Porta", outro drama suburbano. Seria este um novo gênero em ascensão no cinema nacional? A trilha sonora do longa é imponente: não existe nenhuma melodia suave, apenas sons barulhentos que ajudam a (mais uma vez) aumentar a tensão.
Como já dito, o filme é extremamente tenso. Trata-se de uma mistura de elementos como a direção, roteiro e trilha sonora que criam esse clima, de certo modo, claustrofóbico. Durante todos os aproximados 100 minutos de metragem, o público se vê refém da trama. Isso é um ponto positivo do filme, que o torna digno de ser assistido. Depois de todo aquele clima bem criado, pode-se dizer que o final é um pouco decepcionante, por não entregar algo que propôs durante o filme inteiro. Tudo bem que trata-se de uma conclusão condizente com os arcos dos personagens e apresenta algumas coisas a serem pensadas, mas faltou algo a mais. Aliás, esse fator pensante do filme é muito interessante. Nem tudo é entregue de graça, muitas coisas o espectador é obrigado a deduzir. Isso demonstra um respeito muito grande ao público e engrandece a experiência cinematográfica. "Para Minha Amada Morta" é um filme que merece ser visto por sua limpeza visual e por seus elementos cinematográficos capazes de construir um ambiente tenso, mostrando que o cinema nacional também é forte em dramas suburbanos.
Nota:
- Demolidor
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