O roteiro de Alexandre Astier e Louis Clichy é um ponto fraco da metragem. O fato dos personagens coadjuvantes não terem nenhum peso na história, concomitantemente com os protagonistas sem motivações plausíveis, tornam o filme extremamente sem sentido de existir. A história acaba da mesma forma que se inicia. Não existe um estudo detalhado de personagens, assim como o roteiro não é capaz de prover algo substancial a história. A sinopse do filme consiste no fato de que os romanos conseguem construir um conjunto de apartamentos denominado Domínio dos Deuses, em território gaulês. O plot se dá nos nativos buscando formas de expulsar os cidadãos de Roma do local. A estrutura narrativa, porém, é problemática. Se nos quadrinhos a visão estereotipada dos povos conferia humor, aqui demonstra falta de criatividade e até mesmo um certo preconceito. A unilateralidade de alguns personagens demonstra a falta do estudo das condições do persona. A figura de César, por exemplo, é extremamente sem vida, assim como todos os outros personagens romanos. Não existe nenhum vilão que seja memorável. A sessão acaba e o público apenas se lembrará de Asterix e Obelix. Mas, isso também não é por causa do filme; é por causa do peso cultural que esses personagens impõem. Se dependesse do filme, a dupla, se fosse lembrada, seria pela falta de carisma. E isso é muito sério, visto que a essência dos personagens está no apego ao público. Como não existe uma real importância de Asterix e Obelix, o espectador não nutre nenhuma empatia pela história e passa a se demonstrar indiferente aos acontecimentos. Isso torna o filme desinteressante, podendo ser extremamente cansativo em alguns momentos.
Entretanto, nem tudo são pedras. O filme apresenta algumas analogias extremamente importantes. O roteiro consegue fazer um estudo do capitalismo, através dos ideais de livre concorrência e lei da oferta e procura que inspiram uma ganância até mesmo num povo considerado "inocente". A escravidão também é muito bem retratada e algumas críticas sociais são bem explícitas. Como um escravo fugido teria as mesmas oportunidades que um homem livre? Se um escravo fosse livre, precisaria trabalhar para ganhar um dinheiro e sustentar sua casa (que já tinha quando escravo). Não seria essa mais uma forma de escravidão? Isso traz um tom mais sério ao filme que debate questões sociais importantes. Porém, o diretor Louis Clichy não consegue dar dinamicidade a essa trama. O longa apresenta oscilações de tom em demasia, o que dificulta a compreensão do público sobre a mensagem da obra. O diretor não sabe se explora o tom cômico em forma de ironia ou se trata algum assunto com seriedade. Essa mistura de propostas em um único filme diminui a interferência do diretor, visto que ele é responsável por conduzir o longa por um caminho sólido. Isso acarreta também uma montagem defeituosa, que apresenta cenas desnecessárias que beiram ao ridículo.
O visual merece destaque. A forma como os animadores conseguem misturar a essência das histórias em quadrinhos com as novas técnicas de animação é eficaz. Visualmente o filme consegue ser claro em suas ações, além de constituir uma ambientação plausível historicamente, ao mesmo tempo que impressiona pela beleza. A pena está no fato de que o resto não ajuda a engrandecer o trabalho animado. E não pense que isso é uma perseguição ao cinema europeu. Muito pelo contrário; por ser fã das histórias em quadrinhos, esperava muito mais do filme. Era necessário um estudo melhor dos personagens, assim como uma ideia mais criativa para a trama do longa. E, até agora não é claro, trata-se de uma comédia ou um filme emocionante? Não sei dizer. O filme apresenta claras oscilações de tom que tornam a experiência cinematográfica medíocre, assim como desperdiça o potencial de personagens excelentes.
Nota:
- Demolidor
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