domingo, 28 de fevereiro de 2016

Crítica de "O Quarto de Jack"

Como seria a sensação de descobrir o mundo para alguém que somente o viu pela televisão? Alguém que passou toda a sua vida dentro de um quarto, sem contato com a vida exterior? O filme trata exatamente dessas descobertas da realidade na vida de um menino de 5 anos chamado Jack (Jacob Tremblay). Sua mãe Joy (Brie Larson), foi sequestrada com 17 anos e trancafiada num quarto, onde deu luz ao garoto. Ambos eram proibidos de sair do quarto e praticamente só conviviam com um ao outro. Mas, o que o filme tem que chamou tanto a atenção dos espectadores? Primeiramente, o tema central tem uma forte intertextualidade com o mito da caverna de Platão. Mas, sem entrar no viés filosófico, o filme apresenta uma releitura dessa história, mostrando como um menino que não conhece nada do mundo exterior fica maravilhado ao ver coisas simples do cotidiano. E isso serve como uma grande crítica a sociedade atual, visto que, muitas vezes, a cultura extremamente imediatista nos deixa enclausurados em nossos próprios mundinhos, e esquecemos de dar valor as coisas que realmente importam.

O roteiro é de Emma Donoghue, adaptado do livro da própria. É um roteiro muito consistente, apesar de apresentar ritmo lento em certos momentos. Além da intertextualidade evidente já citada, o longa também retoma clássicos da literatura para dialogarem com a ação. "O Conde de Monte Cristo" e "Alice no País das Maravilhas" possuem trechos citados durante o filme que fazem rimas extremamente bem orquestradas. Mas, o que realmente segura o filme, é o desenvolvimento dos personagens e, principalmente, da relação entre eles. O amor entre mãe e filho é muito verossímil, pois o texto consegue apresentar conversas extremamente íntimas, mesmo que não apelem para o clichê. Uma mera conversa ao acordar já é capaz de mostrar ao público a relação de simbiose entre Jack e Joy. E isso tudo só é possível devido aos dois grandes atores principais. Brie Larson está excelente em seu papel, demonstrando uma evolução durante o filme impressionante. Todos os conflitos dá personagem são extremamente bem resolvidos, assim como todas suas angústias e preocupações são bem expressas em tela. Trata-se de uma atuação muito visceral, talvez a melhor de sua carreira até o momento. Mas, o destaque do elenco é o ator mirim Jacob Tremblay. Com apenas 9 anos, Jacob apresenta muito potencial artístico. O menino consegue dar traços ao seu personagem e conduz o filme de uma forma extremamente tranquila, sem exageros em momento algum. Por ser o protagonista da história, muito recai sobre ele, porém a entrega do ator ao personagem é notável.

Sabe quando um diretor não é muito notado durante o filme? Quando ele deixa o egocentrismo de lado e se preocupa mais com a obra do que com a persona por trás dela? Lenny Abrahamson ("Frank") faz exatamente isso. Não é uma direção muito inventiva em relação a planos e enquadramentos, porém o diretor tem um olhar detalhista muito oportuno. As cenas filmadas no quarto, por exemplo, são extremamente bem ambientadas e dão uma sensação nítida de claustrofobia. Além disso, nessas cenas, a fotografia funciona bastante e, como o quarto é muito explorado, o design de produção em cena é extremamente minimalista. Isso contribui para a imersão no filme, pois o ambiente é extremamente crível. Claro, o filme explora muito o drama de sua história, porém este não é muito sensacionalista. A experiência de assistir "O Quarto de Jack" é agradável, principalmente pela mensagem por trás de toda aquela história. A trilha sonora funciona bastante nos momentos de virada do filme, conseguindo acrescentar emoção, tensão e alívio. É isso que uma trilha precisa fazer: servir ao diretor da melhor forma possível. Mesmo com músicas não muito marcantes, o resultado é satisfatório.

O filme é narrado por Jack em alguns momentos. É extremamente tocante ver como são as constatações do menino em relação a suas descobertas. Misturando elementos imaginários e reais, o retrato de Jack do mundo é profundo e extremamente palpável. E, além disso, o filme trata um assunto muito sério: o sequestro. Mesmo não sendo uma história real, sabe-se que essa situação realmente acontece no mundo inteiro. E o filme acerta ao fazer uma denúncia dessa realidade cruel sob o olhar de uma criança. "O Quarto de Jack" é extremamente metafórico e reflexivo, podendo ser considerado um contundente instrumento de denúncia da realidade e motor de transformação social.

Nota: 

- Demolidor

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Crítica de "A Garota Dinamarquesa"


          Filmes que retratam momentos passados são constantemente realizados pela indústria cinematográfica de Hollywood. Ainda mais quando se trata de acontecimentos relevantes para a sociedade atual. Lembrando muito a temática do ótimo "O Jogo da Imitação", "A Garota Dinamarquesa" chega aos cinemas brasileiros com uma história de identidade e descobertas. O filme acompanha a vida do pintor Einar (Eddie Redmayne), que descobre-se mulher e é o primeiro indivíduo a realizar a operação de transgênero. Durante todo esse processo, o pintor é acompanhado por sua esposa Gerda (Alicia Vikander).


Tal projeto ficou nas mãos de Tom Hooper, conhecido por dirigir o drama do rei gago "O Discurso do Rei" e pela adaptação em musical do fenômeno "Os Miseráveis". Aqui, como nas obras citadas, o diretor provê um excelente trabalho de ambientação. A aliança entre um design de produção bem feito e o uso de cenários condizentes reforçam a época em que o filme se passa. Dessa forma, pode-se considerar um bom retrato de época, mesmo que seja "glamourizado" demais. O grande problema do diretor é quando apresenta a câmera em mãos. Trata-se de uma direção muito estática, cuja câmera não flui de acordo com a movimentação dos atores em cena. Ao realizar um trabalho tão competente de ambientação, a obrigação do diretor era passear por aquele cenário, provocando uma espécie de imersão. Porém, aqui, a câmera é extremamente fria e distante, o que prejudica demais a qualidade do filme. Ao final, tem-se a impressão de que estamos assistindo uma novela da Globo, principalmente pela comodidade de Hooper.

O roteiro é de Lucinda Coxon, adaptado do livro de David Ebershoff. É um ponto muito oscilante, pois não consegue apresentar um tom único durante toda a metragem. O desenvolvimento do protagonista até que é bem feito, seus momentos de descoberta são extremamente íntimos, porém a relação entre Einar e Gerda é um pouco superficial. Isso se deve muito ao superestimado Eddie Redmayne que apresenta uma atuação, no mínimo, decepcionante. O ator realizou um ótimo trabalho em "A Teoria de Tudo", mas no filme atual Redmayne apresenta um trabalho extremamente forçado. O excesso de maneirismos e trejeitos do ator prejudicam demais a veracidade da obra, visto que o apego com a história é cada vez menor. Além disso, o roteiro é extremamente monótono em alguns pontos e não dá a relevância necessária a outros. Porém, a única coisa que salva a roteirista, é a apresentação de ideias importantes, como a homofobia e o machismo. Mas, mesmo assim, nas mãos de roteiristas mais experientes, esses temas seriam muito mais alardados e impactantes.

A trilha sonora é melosa demais e extremamente repetitiva. Ela é introduzida em momentos inoportunos e não acrescenta nada em relação a arte do filme. A única coisa realmente boa é a atuação de Alicia Vinkader. Ela consegue ofuscar todos ao seu redor, apresentando um trabalho extremamente maduro e confiante. A grande decepção está no potencial da história e a forma gritante de piora, tanto na direção quanto na atuação de Redmayne. Podemos fazer uma analogia do filme com o recente "Carol", por exemplo. Contudo, a direção de Todd Haynes é infinitamente superior, a dupla de atrizes não apresenta falhas e, mesmo não fazendo criticas importantes, o roteiro consegue ser agradável. "A Garota Dinamarquesa" é um filme lento, desinteressante, com uma série de problemas relacionados a cinematografia, roteiro e elenco. Um assunto tão importante merecia uma obra com maior qualidade artística.

Nota: 

- Demolidor

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Crítica de "O Lobo do Deserto"

O cinema árabe está em crescente expansão, desde o início do milênio. O investimento nas produções está cada vez maior e a qualidade está sendo reconhecida até mesmo pela Academia. Mas, o que o cinema daquela região tem de tão especial? Ora, por ser uma cultura milenar e riquíssima, o cinema do Oriente Médio encontrou um estilo para si: visando retratar a tradição cultural/religiosa da região em oposição com a chegada da modernidade estrangeira através do processo de globalização. "O Lobo do Deserto" (ou "Theeb"), trata um pouco dessa temática sob a forma da jornada de um menino. Theeb é um menino beduíno da época da I Guerra Mundial que precisa partir numa jornada com seu irmão Hussein para servir de guia para um inglês que procura um tesouro romano. A história acompanha esse panorama da Arábia na época; a transição do modo de vida tradicional, das caravelas e camelos à modernidade, sendo representada pela chegada do trem.

O roteiro é escrito por Naji Abu Nowar e Bassel Ghandour. É um trabalho bastante competente, visto que a união entre diversos elementos narrativos tradicionais e metáforas que remetem a uma reconstituição histórica é perfeita. O filme acompanha a história de Theeb, portanto pode-se dizer que é uma espécie de jornada do herói. Alguns arquétipos da jornada são aproveitados, mas o roteiro toma muitas liberdades, principalmente para enaltecer a cultura tradicional árabe. O desenvolvimento do protagonista é pautado na aquisição (e na prática) dos valores que o menino recebe de seu irmão, que serve como uma espécie de mestre na jornada do herói. Theeb, então, passa por diversos conflitos, tanto morais quanto físicos, que são essenciais para sua evolução como personagem. O arco dramático do garoto é perfeito, conseguindo alternar entre os conflitos de forma consciente. Além disso, a principal metáfora do longa se refere à luta entre o antigo com o novo; o arcaico com o tecnológico. Theeb serve para a história como o motor da crítica social, pois como vivia isolado no deserto, não tinha conhecimento das novidades tecnológicas da época. Assim, o protagonista está, também, numa jornada de conhecimento do mundo moderno. E, ao tratar o trem como uma espécie de vilão, o roteiro consegue criar uma identificação com o povo árabe muito grande, visto que o trabalho relacionado a guia de peregrinos está, evidentemente, em extinção. Outro fator que reforça essa ideia é a quantidade de óbitos que a ganância humana promoveu no filme. É visível como todas essas mortes têm ligação estreita com a chegada e o domínio dos estrangeiros.

Dessa forma, pode-se dizer que o filme é arte, no seu mais puro significado: o retrato de um momento histórico sob a visão de alguém que faz parte daquela cultura. E, isso, o diretor Naji Abu Nowar consegue captar muito bem. Nota-se que a direção do filme é totalmente focada no protagonista. Na verdade, não nele, mas em sua visão sobre os acontecimentos. A câmera frequentemente assume o papel de 1° pessoa para demonstrar a visão do menino. Além disso, existem muitos closes nos pés do garoto, demonstrando sua caminhada, entre descobertas e aquisição de valores. O único problema da direção é o fato do longa ser um pouco lento. Mesmo com aproximadamente 90 minutos de duração, o filme consegue se arrastar por alguns momentos. Uma montagem mais rápida e ágil ajudaria em um apego ainda maior com a história. A fotografia, porém, está perfeita. O diretor de fotografia consegue capturar perfeitamente todo aquele ambiente de deserto e usa um artifício muito comum: a insignificância do homem perante a natureza retratada através do contraste entre a vastidão do deserto e a pequenez de Theeb. Outro contraste visual muito importante é entre o trilho do trem e o deserto. Existe uma cena extremamente reflexiva onde a câmera começa mostrando o trilho do trem e se afasta gradativamente até mostrar o trilho sendo engolido pelo deserto. Ou seja, mesmo depois de tudo que o filme mostra de problemático da modernidade, o diretor ainda afirma visualmente que é impossível ganhar da natureza.

A trilha sonora cumpre um papel importante, ainda mais por trazer músicas árabes que ajudam na identificação com o espaço. Além disso, existem algumas canções cantadas pelos personagens, cujas letras remetem ao próprio filme, numa espécie de metalinguagem. É muito interessante essa visão que o filme passa, pois nem todas as ações de Theeb são consideradas éticas. Mas, com essa abordagem, o diretor mostra que muitas vezes, os valores culturais devem transcender aquilo não é inerente ao espaço. Assim, o diretor se mostra inabilitado para fazer qualquer crítica comportamental, pois na visão dele, nenhum valor cultural pode ser considerado "errado". Os atores também estão muito bem. O garoto é interpretado por Jacir Eid Al-Hwietat. Assim como o personagem, o ator mirim se desenvolve com o passar do tempo. Inicialmente vemos um menino um tanto quanto inseguro que se transforma em (literalmente) um lobo, dono de seu próprio destino. Não é uma atuação extraordinária, mas cumpre com a proposta da narrativa. O destaque do elenco é Hassan Mutlag Al-Maraiyeh que provê uma atuação que faz com que o público duvide dos interesses de seu personagem, hora ele é vilão, hora é um ajudante. "Theeb" é um excelente retrato cultural que mostra que o cinema jordânico pode ter muita força. Apresenta a jornada de um herói incomum, usando de metáforas para apresentar o intenso choque cultural, extremamente criticado pela obra, através de direção consciente e roteiro engajado.

Nota: 



- Demolidor

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Crítica de "Brooklyn"

Histórias de imigrantes em Nova York são constantemente aproveitadas por Hollywood. Vide o clássico segundo filme da trilogia "O Poderoso Chefão" que trata exatamente sobre esse tema. Porém, lá, o interesse era em demonstrar os italianos e principalmente a Cosa Nostra. Em 2015, o diretor irlandês John Crowley busca prover uma apresentação pessoal sobre esse fenômeno migratório, adaptando o romance de Colm Tóibín em um filme não-comercial. A história acompanha Eilis (Saoirse Ronan), uma irlandesa frustrada com a sua vida na terra natal e que busca na "América" uma melhora em seu estilo de vida, tanto profissional quanto pessoal. Lá, a jovem mora em uma pensão no Brooklyn (local que era comum a chegada de imigrantes irlandeses), onde viva uma intensa paixão que pode mudar sua vida. O longa recebeu 3 indicações ao Oscar (filme, roteiro adaptado e atriz principal), além de ter sido premiado no Festival de Sundance. Trata-se de um retrato bem diferente da situação do imigrante nos EUA. Através do olhar intimista do diretor, o longa consegue atravessar os diferentes momentos da vida de alguém que saiu de casa: o estranhamento inicial aliado com a saudade, a descoberta de novas realidades e pessoas e o começo da relação empática com o novo espaço. Através de uma direção bastante detalhista, alternando entre planos fechados para mostrar solidão e abertos para mostrar uma espécie de aconchego, Crowley utiliza bastante do cenário a seu favor. Mas, mesmo assim, os atores são extremamente bem dirigidos e a cena é muito bem composta visualmente. Aliás, o diretor provê metáforas visuais belíssimas que dialogam com a proposta do filme, através do uso de cores diferentes e opções de fotografia.

Fotografia essa que se assemelha muito com a do filme "Carol", mas aqui está mais bem realizada. Afinal, desde a primeira cena, a paleta usada no filme já remete a um tempo passado. Aliados a isso, estão a maquiagem e o figurino que estão perfeitamente condizentes com a época em que a narrativa se passa. Tudo isso é fruto de um design de produção minimalista que, mesmo sem exagerar, consegue prover um visual bastante limpo e agradável. Agradável. Talvez essa seja a palavra-chave do filme. O roteiro adaptado por Nick Hornby ("Livre") consegue apresentar um ritmo perfeito que nunca é rápido demais como "A Grande Aposta" nem lento como "O Regresso". Ele consegue oscilar bem entre os momentos dramáticos, felizes, de descoberta, etc. O drama do filme é extremamente bem construído, visto que é muito humano. E não, um drama ser humano, não é um pleonasmo vicioso. Muitos filmes americanos tem a mania de exagerar nos momentos dramáticos para promover uma catarse no final. Isso funciona muito bem em algumas obras, realmente, mas cria-se uma espécie de distanciamento entre o público e a história que prejudica a narrativa. "Brooklyn" não segue por esse lado e, apesar de apresentar bons contornos dramáticos, estes são extremamente bem escritos e principalmente interpretados.

Saoirse Ronan é a grande surpresa do elenco. Americana, filha de pais irlandeses, a atriz promove uma identificação grandiosa com o espectador. Sua atuação apresenta carisma, além de enorme capacidade de inspirar os sentimentos nas horas certeiras. É visível como cada olhar da atriz tem um significado especial e como ela consegue demonstrar suas emoções, muitas vezes, sem precisar de palavras. Outro destaque do elenco é Domhnall Gleeson que tem se mostrado um ator extremamente versátil e que tem escolhido excelentes trabalhos. Basta lembrar que em 2015 (além do filme em questão) o ator teve seu papel em "Star Wars: O Despertar da Força", "Ex-Machina: Instinto Artificial", além do também oscarizado "O Regresso". Aqui Gleeson não possui um papel muito grandioso, mas é essencial para o conflito final da protagonista, inspirando um sentimento necessário à narrativa. Um ponto fraco do elenco, porém, é Emory Cohen, que faz o par romântico principal. O ator não inspira veracidade alguma, além de apresentar uma dicção fraca que tira um pouco o charme da história.

A trilha sonora é um pouco decepcionante. Não pela qualidade, mas pela ausência nos momentos cruciais. Ora, o filme começa com uma melodia extremamente suave e doce, porém ela é praticamente esquecida durante o filme todo. Falta um tema recorrente que ajude a dar esse tom agradável tão comentado. A montagem é excelente, assim como a edição. É visível como a mensagem passada é completa e toda cena tem seu valor. Além disso, os cortes são bastante naturais e o diretor sabe fazer bom uso das tomadas. É visível o baixo orçamento do longa, mas mesmo assim Crowley consegue utilizar artifícios interessantes para enquadramento e movimentação de câmera. Muitas vezes, em uma cena, o foco é capaz de pegar mais de um plano. É algo muito difícil de se fazer, principalmente pela confusão visual que pode causar. Mas, aqui, é realizado com extrema delicadeza e consegue passar o contraste visual de iluminação desejado. Longe do que Tarantino fez em "Os Oito Odiados", mas funcional. "Brooklyn" é um filme extremamente charmoso que, através de design de produção fantástico e ritmo agradável, consegue prover uma interessante visão da vida de uma imigrante, sob os olhos de um competente diretor irlandês.

Nota: 


- Demolidor

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Crítica de "Deadpool"

Deadpool é um personagem relativamente novo criado no universo dos mutantes da Marvel. Teve sua primeira aparição na história "New Mutants #98" em 1991. Inicialmente, tratava-se de uma paródia do personagem Exterminador da DC, mas Deadpool se tornou rapidamente um ícone das histórias em quadrinhos. Pelo seu jeito não-convencional de lidar com o mundo dos super-heróis, não hesitando em matar, usando o recurso de quebrar a quarta parede para interagir com o leitor e seu humor "politicamente incorreto", o personagem foi um quebrador de paradigmas. Nos cinemas, teve sua aparição no pífio "X-Men - Origens Wolverine" sendo interpretado pelo até então odiado Ryan Reynolds (que também já tinha estragado o personagem Lanterna Verde). Uns anos atrás, porém, o ator divulgou um teaser que vendeu a ideia do novo filme. A FOX acreditou no projeto e deu nas mãos dos roteiristas de "Zumbilândia". E o filme já começou acertando na divulgação: os trailers eram recheados de ação e piadas hilárias, vários cartazes e teasers promocionais satirizavam outras obras do cinema e até mesmo o próprio Deadpool. Via-se claramente que a essência do personagem parecia ter sido captada. E essa essência já é demonstrada na primeira cena do filme.

Trata-se de uma cena de ação em câmera leta com muitas mortes extremamente escatológicas e com a inserção dos comentários do protagonista. Ali o filme já mostrou para o que veio: ser uma grande sátira ao mercado de filmes de super-heróis. E é por isso que o longa é tão incrível e não pode ser julgado como uma obra qualquer; apesar do roteiro apresentar algumas conveniências e personagens clichês, essas opções são arquitetadas desde o princípio. O vilão britânico recorrente nessas obras é satirizado no plano inicial. E é essa a grande sacada do roteiro. Ele apresenta o filme da forma como seria se fosse superficial e barato, mas no fundo vê-se o recurso da ironia sendo usado com maestria. Escrito por Rhett Reese e Paul Wernick, o roteiro também apresenta um ponto forte nas piadas. Fazia tempo que um filme americano não provocava tantas risadas em um cinema lotado. Isso se deve ao fato de Deadpool não perdoar ninguém: ele zoa a FOX, a Marvel, Hugh Jackman e o próprio astro Ryan Reynolds. Usando do recurso de quebrar a quarta parede frequentemente (assim como nos quadrinhos), o personagem faz com que o espectador se sinta um intruso na história e a identificação é praticamente instantânea, mesmo que seus atos sejam moralmente duvidosos. Resumindo: além de apresentar alívios cômicos memoráveis, o filme dá uma aula de construção de um anti-herói da melhor forma possível. Se "Guardiões da Galáxia" havia sido grandioso por seu tom cômico, "Deadpool" faz tal obra parecer um filme sério qualquer. Trata-se da adaptação definitiva de uma história em quadrinhos.

A direção de Tim Miller é bastante competente. O diretor inicia o filme com um plano-sequência extremamente bem realizado, focando nos detalhes da cena que provocam humor, ao mesmo tempo que dá uma apresentação concisa do universo da história. Além disso, as cenas de ação do longa são bem filmadas e coreografadas, visto que a movimentação é muito fluida e verossímil. O uso de câmera lenta é feito na medida ideal e a inserção da trilha sonora é genial. Para se ter uma ideia, apenas com a música o filme consegue fazer rir. O carisma de Ryan Reynolds é comprovado aqui. Finalmente o ator teve sua redenção. Logicamente não pode-se dizer que Reynolds é um ator excelente, mas como Deadpool serviu perfeitamente. Outro ponto forte é o fato de que a história não é linear e isso já o diferencia de muitos filmes de origem. Através de flash-backs onde o próprio protagonista descreve a história, o longa vai apresentando os fatos que se desencadeiam até chegar em tal ponto da história. E essa transição é feita de uma forma muito dinâmica, visto que o interesse do espectador é sempre alto no desenrolar dos fatos.

Mas, "Deadpool" não é um filme fácil. Para amantes de cinema artístico não é uma boa pedida. Cenas extremamente violentas, piadas sujas e uma história genérica. Mas, para quem conhece o personagem dos quadrinhos ou gosta do universo cinematográfico dos heróis, é uma grata surpresa. O filme consegue divertir do início ao fim, através de piadas que fazem referência a muitos elementos da cultura POP. Afinal, Deadpool é um ícone das histórias em quadrinhos, pela sua rebeldia e por seu momento em que foi criado, onde o "politicamente incorreto" estava em alta. E, em 2016, somos presenteados com uma obra que capta a real essência do personagem. "Deadpool" é a adaptação definitiva do mundo de um herói para o cinema, mesmo que o protagonista não seja heroico. Palavras dele, não minhas.

Nota: 

- Demolidor

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Crítica de "O Regresso"

Depois do diretor mexicano Alejandro G. Iñárritu faturar o Oscar de melhor filme e diretor por "Birdman", criou-se uma enorme expectativa sobre sua próxima obra. Ainda mais quando anunciou-se a protagonização de Leonardo DiCaprio. A união do premiadíssimo com o renegado. Porém, "O Regresso" foi um filme difícil de ser realizado devido a diversos fatores. O clima hostil da região em que foi filmado, o excesso de perfeccionismo do diretor ao exigir o uso de luz natural durante todo o filme, a demora com a realização dos efeitos especiais, dentre outros. Além disso, ironicamente, os atores tiveram que fazer sacrifícios em prol do longa. DiCaprio (vegetariano assumido) teve que comer fígado cru para ajudar na veracidade da cena. Além disso, Tom Hardy recusou um papel de importância em "Esquadrão Suicida" para concluir as filmagens. Mas, será que todo esse esforço valeu a pena? O filme conta a história de Hugh Glass (DiCaprio), um explorador que é deixado para trás após ser atacado por um grande urso. Acompanha-se então a sua saga por sobrevivência e por vingança àqueles que arruinaram sua vida.

O roteiro, primeiramente, é muito ousado. Inicialmente, tem-se a impressão de que falta camadas nos personagens, que o desenvolvimento é muito superficial. Mas, com o decorrer do filme, a verdadeira mensagem que ele propõe revela que tal desenvolvimento não é importante. O foco do roteiro não é o excesso de sentimentalismo; mas sim retratar a essência da natureza humana. Em vez de se preocupar com dar profundidade aos sentimentos do protagonista, o filme provê uma identidade suja, sofrível através de um desenvolvimento mais físico do que emocional. Todo esse desenvolvimento só é possível, é claro, devido a grande atuação de Leo. Trata-se de um trabalho admirável, tanto pelo esforço físico nítido, quanto pelo trabalho de expressões corporais que é extremamente verossímil. Não é o melhor trabalho de sua carreira, mas DiCaprio mantém um bom nível de atuação e segue como forte candidato ao seu sonhado Oscar. O interessante do roteiro também é a miscigenação de gêneros. O filme não se preocupa em tratar-se apenas de um relato de um sobrevivente, mas faz diversas experimentações inventivas quanto à linguagem cinematográfica. Existem muitos elementos do gênero épico (muitas coisas até de Homero), suspense, faroeste e até mesmo drama familiar. Mas, o fator que torna o longa diferente de qualquer outro filme de sobrevivência, é a preocupação com o desenvolvimento do ser humano perante ao meio ambiente. Através de metáforas visuais, o roteiro de Iñárritu com Mark L. Smith consegue idealizar uma visão do que seria essa identidade humana tão falada, apresentando uma face mais selvagem do protagonista. O filme também é bastante impactante em relação a críticas implícitas ao modelo americano de civilização, visto que existe um diálogo fantástico que mostra que na verdade, a terra é dos índios. Por isso, trata-se de uma obra tão corajosa. O mexicano consegue desenvolver uma história extremamente humana, ao mesmo tempo que critica um sistema totalmente anti-humano. A genialidade de um roteirista está na capacidade de juntar elementos contrários em prol da narrativa. E isso, Iñárritu executa com maestria.

A direção, que também é de Iñárritu, é um dos pontos fortes. Os consagrados planos sequência de "Birdman" estão de volta, mas agora são mais limitados. Mesmo assim, quando esse recurso é utilizado, as cenas são espetaculares. A movimentação de câmera é impressionante e o diretor consegue abranger todo o ambiente da cena ao mesmo tempo que extrai o melhor das atuações de seu elenco. Aliás, a ambientação é excelente. É visível como o longa foi realmente filmado lá e como o diretor consegue imergir todo o público naquele universo glacial. Através de uma direção consolidada, Iñárritu dá ao filme um clima frio, invernal que segue a narrativa o tempo inteiro. É visível o modo como a ambientação e o cenário servem para o tom que o filme apresenta. Além disso, a trilha sonora nervosa e a mixagem de som precisa são essenciais para, mais uma vez, engrandecer todo o trabalho técnico. A fotografia do longa é exuberante e lembra muito "Os Oito Odiados". Mas, aqui, o diretor faz uso diversas vezes de planos abertos que dão ênfase ao meio ambiente sobre o homem. Além de apresentarem um sub-texto bastante significativo, essas cenas dão uma beleza natural imprescindível ao longa, e são dignas de papel de parede.

Os efeitos visuais são impressionantes. Vale ressaltar que o urso foi inteiramente feito por computação gráfica. Além de ser muito bem renderizado, a organização espacial da cena é perfeita. A direção consegue criar um clima extremamente apreensivo e importante para o desenvolvimento do enredo. O elenco de apoio também está muito bem. Domhnall Gleeson participa bem de suas cenas, mostrando versatilidade e imposição. Tom Hardy impressiona com a melhor interpretação de sua carreira. Mesmo com seu visível problema de dicção, o personagem dado a ele se encaixa perfeitamente com os seus trejeitos. Trata-se do "vilão" do filme, mas o personagem pode ser analisado como um vértice relacionado à obsessão humana. Aliás, seguindo por esse lado, cada personagem pode representar alguma característica inerente ao homem. E é essa profundidade que torna o filme tão especial.  Não deve ser visto só com os olhos, mas com a mente. Mesmo não querendo ser sentimental, o filme emociona. Mesmo DiCaprio não tendo muitas falas, apresenta uma atuação essencial. E, com toda a suposta falta de ambição que o filme inspira, ele se prova o contrário: uma obra grandiloquente que se caracteriza por um profundo estudo da identidade humana através de uma história extremamente bem dirigida e com o elenco ideal para tal estudo antropológico.


Nota: 


- Demolidor

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Crítica de "Anomalisa"

Sabe quando o título do filme dialoga perfeitamente com o seu conteúdo? "Anomalisa" é um clássico exemplo disso; quando o espectador sai da sala de cinema ele realmente vê o verdadeiro significado do título. Isso se deve a uma construção de roteiro bem feita que é extremamente coerente do início ao fim. O filme animado conta a história de Michael Stone, um palestrante motivacional desiludido que encontra a personagem Lisa em um hotel e começa a tentar entender os significados verdadeiros do amor. O título faz uma composição por aglutinação com a palavra "anomalia" com o nome "Lisa". E o motivo de ser tão brilhante é o fato do título ser extremamente autorreferencial. Ora, a animação pode ser considerada uma anomalia, visto que não se vê cinema de gênero desse tipo tão frequentemente. Tratando-se de uma animação, era esperado um espécie de positivismo implícito no longa. Todavia, "Anomalisa" faz questão de desmistificar o significado de animações, e mostra que pode contar um drama existencial de forma sucinta, mas instigante.

O roteiro é escrito por Charlie Kaufman, responsável pelo clássico "Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças". É evidente a visão do roteirista sobre o ideal do amor e como todos os clichês românticos são desmistificados aqui. Um recurso interessante usado é o fato de todos os personagens (inclusive mulheres) possuirem um tom de voz muito parecido para o protagonista. Isso faz com que pareça que Michael é desgostoso com a vida e é cansado de uma realidade tão monótona e sem surpresas. Eis que surge a personagem Lisa que o encanta profundamente, principalmente por apresentar um timbre de voz diferenciado. Até aí, mesmo que a ideia seja inovadora, a história estava tomando um rumo previsível. Uma espécie de amor idealizado estava surgindo. Porém, a grande sacada do roteiro, é desmistificar (mais uma vez) a ideia de "alma gêmea". Logo depois do primeiro contato, Lisa vai passando a ter uma voz parecida com a dos outros. E é aí que o escritor tem seu brilhantismo: apresentar que tal ideia de amor perfeito é falha e que a verdadeira felicidade está na capacidade de conciliar relacionamentos, mesmo que monótonos. Afinal, o amor só existe quando existe uma empatia entre o casal, e não por uma paixão momentânea. Tudo bem, é uma visão um pouco pessimista desse sentimento. Mas, é importante que a ideia de Kaufman seja passada, pois assim nós mesmos podemos tirar nossas próprias conclusões sobre o conceito. Esse é o grande mérito do filme: através de metáforas mexer com os ideais do espectador e fazer com que cada um teça seu próprio ponto de vista sobre este sentimento.

A direção é de Kaufman em parceria com Duke Johnson. Trata-se de um trabalho bem competente, visto que o uso do paradoxo é muito bem feito. No início do filme, somos apresentados a um mundo extremamente caricato e com movimentação extremamente artificial. É uma estratégia do diretor de mostrar que claramente trata-se de uma animação. Mas, o que torna o filme tão diferente, é o fato de que com o decorrer do longa, o fato de ser uma animação é simplesmente ignorado. Os conflitos do protagonista são tão introspectivos e tão humanos que realmente imaginamos um ator interpretando toda aquela dúvida e emoção. E é por isso que a direção é tão paradoxal: ao mesmo tempo que o apelo visual ao aspecto animado é forte, a construção dos elementos narrativos é muito humana. Tudo isso remete, novamente, ao fato de ser uma anomalia. Um filme extremamente ousado, que usa e abusa da criatividade para novas experimentações de gênero e estruturas cinematográficas.

O grande fator que faz com que o filme deve ser visto é a inteligência. O espectador é tratado de forma respeitosa e o roteiro não é insinuativo demais. Dessa forma, o público pode tirar suas próprias conclusões sobre o significado das metáforas. E é isso que engrandece tanto o cinema: o fato de cada um ter uma visão diferente e, tratando-se de arte, uma perspectiva sobre o mundo diferenciada. Ninguém é obrigado a ter a mesma opinião sobre amor. E "Anomalisa" preza muito por isso, pois apesar de apresentar seus ideais, mostra que não são valores absolutos. Cada um pode tirar sua própria conclusão, de acordo, também, com sua própria experiência pessoal. "Anomalisa" é um filme que faz jus ao nome, por ser irreverente, metafórico, paradoxal, além de extremamente íntimo e reflexivo.

Nota: 

- Demolidor

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Crítica de "Trumbo - Lista Negra"

A indústria cinematográfica hollywoodiana está cada vez mais mudada. Era inimaginável anos atrás uma biografia sobre um escritor dito comunista entrar em cartaz nas telonas americanas. Mas, esse dia chegou. A história acompanha o roteirista Dalton Trumbo, vencedor de 2 Oscar e escritor de clássicos como "Spartacus" e "Papillon". Mas, o grande motivo do filme existir, é o fato de que Trumbo foi acusado comunista e preso por isso. O longa, além de acompanhar a vida profissional do roteirista, também explora seu lado político e seus ideais de esquerda que o levaram a prisão. A escolha da história de Trumbo é acertada por dois importantes aspectos: a apresentação de uma realidade histórica extremamente conservadora e preconceituosa, visto que, na época, a opinião política definia o sucesso de alguém; e a demonstração dos bastidores de Hollywood, que poucos filmes atuais têm a preocupação de o fazer. Trata-se de um importante estudo metalinguístico da sétima arte, apresentando seus vértices nos grandes estúdios de cinema e em atores renomados como John Wayne e Kirk Douglas.

O roteiro do filme é escrito por John McNamara, adaptado do livro de Bruce Cook. Ironicamente, é um dos pontos fortes do filme. A apresentação do universo cinematográfico é excelente. O trabalho do roteirista, a relação dele com os produtores e diretores, tudo isso é muito bem explorado. Dessa forma, serve como uma espécie de "documentário" sobre os bastidores de grandes obras. Principalmente para quem conhece os filmes a que se referem, o filme tem um quê a mais. Além disso, a posição política de Trumbo é muito bem acentuada e de certa forma, caricata ao extremo. Isso serve como uma crítica a sociedade americana da época, visto que os direitos de liberdade de expressão e opinião eram violados. Nesse cunho político, o grande mérito do longa é não demonizar o lado capitalista, mas sim as atitudes daqueles que encaravam certos roteiristas como a "ameaça comunista". Percebe-se, porém, que o filme tem uma leve inclinação para o cunho esquerdista, mostrando ideais políticos através de diálogos entre o protagonista e sua filha. Isso tira um pouco a veracidade da obra, visto que toma (mesmo que um pouco) um lado como certo. E esse fato desencadeia no grande ponto fraco do roteiro: o endeusamento do personagem principal. Mesmo que, em alguns momentos o filme mostre desentendimentos familiares, Trumbo é essencialmente um herói. E é isso que torna a cinebiografia comum; ela não sai do estereótipo de tratar a pessoa representada como superior. Enquanto "Steve Jobs", por exemplo, tratava seu protagonista com um certo desdém, "Trumbo" trata o seu com uma admiração exorbitante. Isso tira um pouco a autenticidade da obra, visto que nem um ser humano é tão perfeito assim.

A direção é de Jay Roach, diretor conhecido por comédias como "Entrando numa Fria" e "Austin Powers". Trata-se de seu trabalho mais "sério", no sentido literal da palavra. O diretor tem a capacidade de realizar um trabalho decente, mas que não é memorável. As tomadas usadas não são inovadoras e a direção em si não é muito notada. Mas, tendo em vista a contundência da história, isso configura-se como um ponto positivo. Roach não apresenta a vaidade de demonstrar seu trabalho através de planos memoráveis, ele simplesmente se preocupa em dar um bom encaminhamento para a história. E isso, consegue realizar perfeitamente. A montagem do filme é bem feita, assim como a edição. Todas as cenas apresentam o tom necessário à história e acrescentam alguma coisa para o produto final. O elenco está fantástico. Bryan Cranston demonstra que pode interpretar personagens "reais" com o mesmo brilhantismo que interpretou o icônico Heisenberg. Ele apresenta uma atuação extremamente passional e competente, porém é prejudicado pelos excessos do roteiro. O elenco de apoio também está fantástico, com destaque ao sempre cômico John Goodman e ao talento inesgotável de Helen Mirren.

"Trumbo - Lista Negra" é um filme que precisa ser assistido. A história de Dalton é extremamente cinematográfica, em todos os sentidos da palavra. Talvez por ser um personagem tão controverso, a Academia não reconheceu o longa da forma que deveria. Como cinebiografia, trata-se de uma obra bem feita em todos os seus aspectos. As únicas ressalvas estão nos excessos de roteiro, tanto em relação ao posicionamento político quanto ao apelo em demasia à figura heroica do protagonista. A grande pena é que a história tinha tudo para prover um filme não convencional, subversivo. Porém, em termos narrativos, o roteiro não apresentou coragem suficiente para sair da mesmice de Hollywood, mesmo que o personagem retratado não se enquadre nesse perfil. O filme serve como uma bela homenagem a genialidade da escrita do roteirista, porém através de excessos no roteiro, entra numa zona de conforto perigosa e, como biografia, não apresenta nada de novo ao mercado, apesar de ser uma obra que precisa ser assistida pela importância do protagonista e pela crítica ao cinema conservador americano.

Nota: 

- Demolidor