A sinopse do filme não precisa ser contada. Basta saber que passa-se depois de "O Retorno de Jedi", onde a Primeira Ordem (espécie de descendente do Império) busca trazer o lado sombrio para todas as partes do Universo. Enquanto isso, em alguma parte da galáxia, ocorre um despertar da força... É melhor parar por aqui. Uma grande sacada do marketing do filme foi a elaboração de trailers e teasers que não contassem nada crucial da história, mas que traziam elementos nostálgicos que aumentavam a expectativa dos fãs. Dessa forma, o filme consegue resgatar um pouco da originalidade de "Star Wars", visto que um dos pontos fortes da saga sempre foram as reviravoltas da trama. A Disney acertou em cheio o modo de divulgação do longa, coisa que a Warner não conseguiu fazer com "Batman vs Superman", por exemplo. O roteiro do filme é fantástico. O espectador é rapidamente introduzido no universo dos novos personagens e a apresentação destes é muito fluida. Além disso, o desenvolvimento primário das características deles é de uma destreza expressiva. Destaque para a personagem Rey que rouba o filme por sua forte presença feminina e o heroísmo nato que a atriz Daisy Ridley inspira. Vale ressaltar também o robô BB-8 que visualmente é muito bem concebido, além de apresentar uma espécie de personalidade própria que rapidamente o faz cair nas graças do grande público. Outro ponto forte do roteiro é a aproximação desse novo universo com as caras já conhecidas pelo público. Han Solo, Chewbacca, Leia, C3PO, R2-D2 estão sempre ali, servindo como uma espécie de base para toda a narrativa preestabelecida, mas a história claramente se preocupa em seguir o rumo de novos personagens, mostrando que a franquia pode viver mesmo sem os personagens clássicos. Outro fator crucial para o engrandecimento do longa foi o humor sutil presente em quase todas as 2 horas e 15 minutos de filme. Enquanto a trilogia original apresentava um tom mais sério e sombrio, e a nova um tom bobo e fútil (basta relembrar Jar Jar Binks), Abrams cria uma espécie de humor controlado, pois as piadas não são forçadas, elas apresentam-se da forma mais natural possível.
A direção de Abrams é o diferencial do filme, George Lucas pode ser considerado um gênio por idealizar um mundo como o de "Star Wars", mas nunca foi o melhor pra reproduzir isso na direção. Isso pode ser muito bem observado na trilogia de Anakin, visto que a quantidade excessiva de CGI estraga a experiência do espectador quanto ao sentimento que o filme provoca. Abrams, nerd assumido, percebeu de imediato que o que faz a trilogia clássica ser tão aclamada é a mixagem de diferentes aspectos do cinema numa mesma obra. No roteiro há a mistura de elementos do faroeste, com filmes de samurai, seguindo a jornada do herói. E na direção, existe a miscigenação de efeitos práticos e computadorizados, ambientes artificiais e ambientes montados de verdade. É exatamente isso que o novo diretor resgata de "Star Wars". É visível a construção de diversos cenários no filme, assim como o uso de veículos reais, mas, ao mesmo tempo, existem os grandes efeitos especiais que apresentam um acabamento excelente que impede o espectador de duvidar se aquilo é um efeito ou não. A condução da direção é extramente bem feita e a narrativa se desenvolve de uma forma padrão, porem extremamente bem estruturada e dividida. O clímax é apresentado no momento certo, decorrendo de uma ascendência do roteiro desde o início do filme. Pode-se dizer que existem algumas pontas soltas, mas deve-se analisar o Despertar da Força como a primeira parte de um filme maior, assim como Uma Nova Esperança era. Portanto, é necessário paciência para o desvendamento de alguns mistérios ocultos.
John Williams volta mais uma vez para comandar a trilha sonora. Apesar de usar muitos temas já consagrados, o maestro consegue criar novas melodias para as novas situações e reafirma sua grandiosidade e sua importância para o cinema americano. O elenco está excelente, principalmente John Boyega, Oscar Isaac e a já citada Daisy Ridley. O único ponto fraco é Alam Driver, pois não consegue ainda passar o peso que seu personagem inspira. O elenco original dispensa comentários, pois eles são tão apegados a seus personagens que não precisam fazer esforço algum para vivê-los. É emocionante revê-los depois de mais de 30 anos fazendo os mesmos papeis que marcaram diversas gerações e continuam marcando. Aliás essa é a grande sacada de Abrams e da Disney. "O Despertar da Força" é um filme que pode ser visto sem saber nada sobre a saga, ao mesmo tempo que apresenta espécies de homenagens aos fãs. É como se o filme se preocupasse em recrutar a nova geração para aquele Universo, mas sem esquecer dos fãs consolidados que viveram a cresceram com "Star Wars". Por isso é tão importante. Não é apenas uma antologia de filmes, mas um verdadeiro retrato da sociedade da forma mais pura da arte. A miscigenação de elementos culturais mundias faz com que a saga seja amada no mundo inteiro. Poderia dizer até que foi por causa de Guerra nas Estrelas que o Skybaggins existe hoje, visto que serviu de uma porta para todo um universo nerd e cinematográfico, portanto foi um importante definidor de caráter e aquisição cultural. E, felizmente, J.J. Abrams e a Disney compreenderam a real importância do produto e proporcionaram um filme repleto de ação, direção consolidada, roteiro afiado, mas, principalmente, a carga dramática que dá orgulho de fazer parte do universo de "Star Wars" e de sentir que a Força realmente existe nos corações dos fãs.
Nota: (metalinguístico, não?)
- Demolidor