quinta-feira, 6 de março de 2014

Crítica de "Até o Fim"

Os filmes que demonstram a sobrevivência do ser-humano tem tido muitas críticas positivas, além de atraírem um grande público. Para ilustrar isso, é só pegar as duas últimas cerimônias do Oscar. No Oscar 2013, Ang Lee levou o prêmio de melhor diretor pelo filme "As Aventuras de Pi". No Oscar 2014, Alfonso Cuarón levou o mesmo prêmio pelo filme "Gravidade". Ambos os filmes retratam esse tema. Também temos o ótimo filme protagonizado por Tom Hanks, "O Náufrago". É esse tema que aborda "Até o Fim" (ou "All is Lost"). A trama acompanha um homem (Robert Redford) que tem seu barco danificado e fica à deriva no mar.

O roteiro é de J. C. Chandor ("Margin Call - O Dia Antes do Fim"). Ele peca em vários aspectos. O principal é o fato dele não desenvolver bem o personagem de Redford. Para se ter noção, o personagem nem tem um nome. Com essa falta de desenvolvimento e apresentação, o público não se apega ao personagem e fica indiferente ao sofrimento por qual ele passa no filme. O roteiro também é muito prolongado. Ele é mais parecido com um guia de sobrevivência no mar do que um roteiro de filme. Afinal, o roteirista não apresenta os dramas pessoais do personagem, mas sim os métodos pelos quais o personagem usa para sobreviver. O filme não possui diálogos e as situações demoram a se resolver, deixando o longa lento e pesaroso de assistir. As cenas dramáticas são raras no filme, porém sente-se falta delas. Porém o roteiro acerta em alguma coisa. O filme apresenta metáforas clichês, mas interessantes sobre até onde vai a fé do ser-humano, usando de elementos da paisagem.

A direção também é de J. C. Chandor. Sua direção é regular. Enquanto em "As Aventuras de Pi", Ang Lee usava o mar espetacularmente como um cenário para a história se desenrolar, aqui J. C. Chandor demora a perceber isso. O início do filme é todo centrado no barco e no personagem. O mar só é reparado bem em cima na telona. A partir do segundo ato, parece que o diretor aprendeu e começou a usar o mar como referência, ajudando assim o fotógrafo do filme. Mas, mesmo usando mais a ambientação marítima, o diretor continuou apostando na qualidade de seu ator e continuou focando a câmera nele. A fotografia a partir do segundo ato mostrou-se digna e bem feita. A trilha sonora foi pouco acionada (principalmente pela ausência de cenas dramáticas) e isso fez uma falta enorme para o filme, afinal é uma bela melodia. A montagem do filme é defeituosa. O trabalho do montador não foi muito atencioso, pois em alguns momentos percebemos os cortes feitos na edição. O único ator presente no filme é Robert Redford ("Butch Cassidy", "Golpe de Mestre"). A atuação dele é primorosa. Mesmo com um roteiro sem falas, sem parceiros de contracena e sem ambiente para se movimentar, Redford promove um espetáculo artístico. Sua atuação baseia-se nas expressões faciais. O que o roteiro não nos dava do personagem, o ator conseguiu passar um pouco. Redford passou a imagem de que o homem é um velejador experiente e calmo. Ele faz tudo isso sem desenvolver nenhum diálogo. Uma atuação primorosa e exemplar.

O filme foi indicado a 2 Globos de Ouro (ator e trilha sonora), sendo que levou o troféu de trilha sonora. O filme é bem monótono e sua 1 hora e 40 minutos passam bem devagar. O filme perdeu a oportunidade de tornar-se um bom drama, para tornar-se um filme de aventura/sobrevivência que brevemente será esquecido. Existem aqueles que irão gostar das metáforas, mas para tornar-se um bom filme, o longa precisa de mais. O filme necessita de cortes de cenas desnecessárias, um roteiro mais profundo e uma apresentação de personagens mais bem feita. Apesar de apresentar uma atuação primorosa de Robert Redford, o filme apresenta um roteiro fraco e sonolento.

Nota: 

- Demolidor

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