quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Crítica de "Trapaça"

David O. Russel tem se mostrado um diretor eficiente. Em 2010, Russel dirigiu o excelente drama baseado em fatos reais sobre um boxeador chamado "O Vencedor". Dois anos depois, ele dirigiu outro bom drama sobre pessoas com doenças mentais. Agora, o diretor vai para o universo do crime para apresentar uma nova história. Considerada uma comédia (o que na minha opinião não é), "Trapaça" acompanha Irving Rosenfeld (Christian Bale) e sua amante e parceira Sydney Prosser (Amy Adams) que vivem de enganar os outros. Certo dia eles são desvendados pelo agente do FBI, Richard DiMaso (Bradley Cooper) que os obrigam a trabalhar para ele e ajudá-lo a pegar políticos corruptos no flagra, inclusive o prefeito Carmine Polito (Jeremy Renner). Por trás dessa situação aparece a esposa de Irving, Rosalyn Rosenfeld (Jennifer Lawrence) que muda o panorama do jogo, introduzindo novas coisas não planejadas. A história é baseada em fatos reais, mas obviamente muitas coisas são mudadas. Uma coisa que eu achei interessante foi a tradução brasileira. Nos EUA o filme chama-se "American Hustle", um título difícil de traduzir ao pé da letra. Porém o título adaptado ficou muito melhor que o original e expressa exatamente as situações presentes no longa.

O roteiro é escrito por David O. Russel e Eric Warren Singer. A cadência que o roteiro apresenta é interessante. Em vez de mostrar o crime de uma forma escandalosa como vimos em "O Lobo de Wall Street", o filme apresenta o mesmo tipo de crime, porém de uma forma leve. O roteiro conduz o longa de uma forma solta, sem parecer forçado e, ao mesmo tempo, fazendo uma crítica a corrupção dos políticos e aos trapaceiros. Os personagens são muito bem desenvolvidos. "Trapaça" é o tipo de filme em que na primeira cena de determinado personagem você já entende sua proposta e se apega (ou não) a ele. Além disso, as relações entre os personagens são criadas de uma forma espetacular. Como a história acompanha trapaceiros, é perceptível o modo como Russell apresenta as relações entre os personagens de uma forma onde não existe confiança. Assim, o roteiro apresenta reviravoltas interessantes nas relações dos personagens. Além de desenvolver bem as relações, o roteiro também consegue deixar explícito que cada um dos personagens tem seu objetivo na operação. Isso é apresentado brilhantemente, de forma que o espectador não consegue identificar quais serão os rumos do personagens. A direção de David O. Russell é eficiente. Considero ele um diretor que dirige atores. Enquanto outros diretores prezam por focar em ambientes e situações, Russell opta por focar em seus atores. No filme, os close-ups são feitos nas horas certas. A direção é bem fluida e consegue apresentar a situação e os personagens. Os movimentos de câmera que mostram o corpo inteiro do personagem e depois vão fechando na face do personagem são fantásticos, pois conseguem usar das ótimas expressões faciais feitas pelos atores. A direção consegue apresentar bem os ambientes e estes são usados para ilustrar determinada situação usando determinada cor ou tom.

O elenco foi escolhido de forma engraçada. Russell pegou dois dos atores de seu penúltimo filme, ("O Vencedor") Christian Bale e Amy Adams e dois do seu filme anterior ("O Lado Bom da Vida") Jennifer Lawrence e Bradley Cooper. Christian Bale faz um excelente trabalho. Ele reafirma o que todos já sabem: que é um ator versátil. O ator consegue mudar de personagens tão diferentes de forma tão natural que o tornam um dos melhores atores em atividade. Além de sua boa interpretação do personagem, que mostra as dúvidas e ambições do personagem, o ator brilha na caracterização. Para representar seu personagem fielmente, Bale engordou e sugeriu o uso de penteado uso pelo Irving "real". Isso tornou sua atuação além de artisticamente boa, caricata. Outro membro do elenco que brilha é Jennifer Lawrence. Apesar de nova, a atriz demonstra uma grande experiência na sua caracterização. Todas as neuroses e os ataques de sua personagem são excelentemente passados para a tela. Amy Adams tem uma atuação mediana, que não demonstra muito talento artístico, mas não prejudica o caminhamento do filme. Jeremy Renner faz um excelente trabalho que demonstra que o ator tem excelente potencial, apenas precisa selecionar melhor seus papéis. A única decepção no elenco foi Bradley Cooper. Enquanto no filme "O Lado Bom da Vida", o ator esbanja técnica e emoção, nesse filme ele tem uma atuação forçada. As risadas e as surpresas que o personagem sofre são visivelmente forçadas. Talvez a culpa não seja de Cooper, apenas o papel que não deveria ter sido dele.

O filme não possui efeitos especiais. A fotografia é mal usada e não serve para introduzir os personagens em determinado mundo. Porém visualmente o filme brilha na ambientação. A ambientação é muito bem criada e ilustra a década de 70 fielmente. Além da ambientação, o figurino é fantástico, assim como a maquiagem. A montagem do filme é bem feita, apenas algumas cenas que poderiam ser mudadas, mas o saldo é positivo. O filme já ganhou 3 Globo de Ouro (melhor filme em comédia, melhor atriz em comédia: Amy Adams, melhor atriz coadjuvante: Jennifer Lawrence). Além do Globo de Ouro, o filme possui incríveis 10 indicações ao Oscar ( melhor filme, melhor ator: Christian Bale, melhor atriz: Amy Adams, melhor ator coadjuvante: Bradley Cooper, melhor atriz coadjuvante: Jennifer Lawrence, melhor diretor: David O. Russell, melhor roteiro original, melhor produção de design, melhor montagem e melhor figurino). Na minha opinião o filme juntamente com "Gravidade" é grande cotado para ganhar o prêmio de melhor filme, por apresentar uma história leve e que agrada muitas pessoas, diferente de "O Lobo de Wall Street", ou até mesmo, "12 Anos de Escravidão". "Trapaça" é um ótimo filme que apresenta apenas um problema: a tentativa de mostrar o crime de uma forma leve a fim de agradar grande parte do público.

Nota: 

- Demolidor

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