quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

Crítica de "12 Anos de Escravidão"

A escravidão, sem sombras de dúvida, foi definitivamente uma das maiores atrocidades que o homem já cometeu na face da Terra. É até difícil para nós entendermos como um ser-humano era capaz de tratar seu semelhante com tamanho desprezo e racismo. Nesse panorama de escravidão, "12 Anos de Escravidão" desenrola-se. Situado no século XIX, o filme é uma adaptação da biografia de Solomon Northup. Solomon Thurp (Chiwetel Ejiofor) é um negro livre que possui uma mulher e dois filhos. Ele vive de tocar violino. Certo dia, Solomon sofre uma cilada e é vendido como escravo. O principal senhor de engenho para qual Solomon trabalha é Edwin Epps (Michael Fassbender) e em sua fazenda Solomon faz amizade com a escrava Patsey (Lupita Nyong'O).

A história, como já disse, é adaptada do livro biográfico de Solomon, escrito por ele mesmo na época. O roteiro do filme é de John Ridley ("Três Reis"). O roteiro é bem escrito, apesar de alguns problemas. Solomon possui um excelente desenvolvimento que faz com que o público se apegue ao seu drama. A personagem Patsey, porém, parece muito interessante, mas ela é pouco explorada. A personagem, infelizmente, tem pouco tempo no roteiro. Os diálogos são ótimos e dão uma ideia de luta por sobrevivência. Os personagens dos senhores de engenho também são avassaladores. É difícil avaliar qual é o pior em relação a maldade. Isso é resultado de um bom desenvolvimento, que faz com que o espectador comece a odiar esses personagens por suas atitudes. Apesar de bons desenvolvimentos e diálogos, o filme peca pela continuidade na história. Sem dúvida a história é chocante e marcante, porém existem muitas cenas desnecessárias que entediam e não servem para o desenrolar da história.

A direção é de Steve McQueen ("Fome", "Shame"). O diretor faz um excelente trabalho. Enquanto outros diretores optariam por ocultar as crueldades que os escravos sofriam apenas para contar a odisseia do protagonista, McQueen consegue balancear os dois. Ao mesmo tempo em que habilmente o diretor conduz a narrativa, ele também não perde tempo e critica acintosamente a escravidão. Essa critica é visível, pois o diretor não oculta as cenas das chicotadas. Pelo contrário, o diretor deixa explícito a dor e o sofrimento dos chicoteados. Essas cenas são fortíssimas e incomodam o espectador. Mas é isso que uma boa direção implica: incomodar o espectador com a realidade nua e crua. A fotografia do filme é bonita, principalmente nas fazendas, onde o diretor de fotografia consegue mostrar belas paisagens contrapondo com a dura realidade dos negros. O figurino é excelente e remete ao tempo histórico onde a história de passa. Essa ambientação no figurino perfeita, deve-se a um bom design de produção. A ambientação dos cenários, porém são defeituosas, pois não há um realismo evidente. A trilha sonora foi um prolema no filme. Mesmo que a trilha quando usada seja bonita, ela é muito tímida. Sente-se falta de uma trilha marcante que acompanhe o filme inteiro ditando o seu ritmo.

As atuações são estupendas. Chiwetel Ejiofor ("Filhos da Esperança") tem uma ótima atuação. Seus pontos fortes no filme são as expressões faciais. O trabalho facial do ator é impressionante, pois as emoções passadas através de seu rosto são extremamente realistas. Outra que merece destaque é Lupita Nyong'O ("Sem Escalas"). A revelação do ano, Lupita faz um excelente trabalho de interpretação e caracterização. Porém sua atuação é um pouco ofuscada pelo seu pouco tempo de tela. Michael Fassbender ("X-Men - Primeira Classe") está em seu terceiro trabalho com o diretor (sendo que McQueen só dirigiu três longas na vida). Ele consegue passar uma sensação autoritária, ao mesmo tempo frágil a seu personagem. O contraste de humor de seu personagem é muito bem passado à telona por ele. O interessante no elenco do filme é que possui bastante atores consagrados fazendo uma ponta aqui ou acolá. É o caso de Benedict Cumberbatch, Brad Pitt e Paul Giamatti. O filme faturou o prêmio de melhor filme em drama no Globo de Ouro 2014. O filme possui 9 indicações ao Oscar 2014 (filme, diretor, ator, ator coadjuvante, atriz coadjuvante, roteiro adaptado, figurino, montagem, design de produção). O filme é um retrato da realidade nua e crua da escravidão, com uma direção exemplar de Steve McQueen, mas com roteiro com erros de continuidade da narrativa.

Nota: 

- Demolidor

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