sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Crítica de "A Menina que Roubava Livros"

A Segunda Guerra Mundial foi um dos eventos mais devastadores da história da humanidade. Até agora, foi a maior guerra entre seres humanos da história e, por conseguinte, talvez o maior evento histórico do século XX. Como qualquer outro evento importante, a Segunda Guerra gerou obras na cultura POP como livros, games, filmes... Uma dessas obras foi o livro "A Menina que Roubava Livros" (se você preferir "The Book Thief") do escritor australiano Markus Zusak. Porém essa obra não é da Guerra propriamente dita como nos jogos FPS ou nos famosos filmes do Spielberg ("A Lista de Schindler", "O Resgate do Soldado Ryan"). "A Menina que Roubava Livros" conta a história de Liesel (Sophie Nélisse), cuja mãe é comunista. Esta, para salvar sua filha, a entrega para um casal alemão, Hans (Geoffrey Rush) e Rosa (Emily Watson). Um tempo depois para cumprir a promessa de um homem que salvou sua vida, Hans esconde o judeu Max (Ben Schnetzer) em seu porão. Liesel então começa a roubar livros na casa de um rico alemão para ler ao seu novo amigo.

Antes de mais nada, gostaria de informar que eu não li o romance de Zusak. Então não saberia dizer como o filme é em termo de adaptação. A minha crítica será baseada no filme analisado cinematograficamente. O roteiro do filme é bem fluido e apresenta os seus personagens habilmente. Quando se pensa em II Guerra Mundial, pensa-se que todo alemão é mal e gosta da Guerra. Porém o roteiro do filme prova o contrário. O roteiro preza por enaltecer as qualidades dos alemães e mostrar que estes estão aflitos com a Guerra tanto quanto qualquer outro cidadão no mundo. Isso é bastante notável, principalmente pelo casal adotivo de Liesel, porque estes possuem um ótimo desenvolvimento e cada um desses personagens possui uma característica própria, que os tornam os melhores personagens do longa. Mas não pense que o roteiro elogia o nazismo. É perceptível como o roteirista Michael Petroni ("As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada") insere nos diálogos piadas sobre Hitler feitas por alemães. Além disso, o roteiro também mostra a crueldade dos soldados até mesmo com os próprios conterrâneos, ao baterem neles ou insultarem na frente de muitas pessoas. Uma coisa interessante no roteiro é que a Morte narra a história (assim como no livro). Dessa forma, o filme apresenta questões interessantes sobre o ser-humano perante à morte, a inevitabilidade perante o inevitável e apresenta um ponto de vista que talvez nunca tivéssemos parado para pensar.

A direção de Brian Percival é eficiente. Até mesmo na direção ocorre críticas visuais ao sistema nazista. Por exemplo: na primeira vez que Liesel chega a Rua do Paraíso (onde moram o seu casal adotivo), o diretor abre o plano e mostra a rua inteira. Assim, somos apresentados a um mundo branco, sem cor, sem vida, que procura respirar, mas o sistema o sufoca. Outro exemplo é a cena em que Liesel é forçada a sair da casa do rico nazista e quando ela olha para trás, a fim de dar um adeus, ela vê a esposa dele (a mulher que estava mostrando a garota os livros) atrás da porta. Essa porta tem riscos verticais que lembram uma prisão, ou seja, a mulher está num certo tipo de prisão devido ao seu marido. Ou também na cena do dia do aniversário de Hitler, onde os alemães vão para as ruas queimares seus livros. O diretor usa muito a imagem da cor preta que significa morte, ou seja, as pessoas se corromperam devido ao sistema rígido e morrem aos poucos, devido a tanto sofrimento. A única cor mais clara perceptível na cena é a da roupa de Liesel, que significa que mesmo num mundo tão obscuro e devastador como aquele, uma gota de esperança pode mudar o panorama do jogo. Esses são apenas alguns de vários momentos, onde o diretor usa da expressão visual do filme para criticar uma forma de governo tão errada.

O elenco foi bem escolhido. Sophie Nélisse (em seu primeiro papel de destaque) conduz bem o filme. Ela não faz um excelente trabalho, mas ele consegue demostrar os sentimentos da garota nos momentos certos. Certamente falta experiência em alguns improvisos e expressões faciais, porém o talento é eminente. Quem realmente brilha na atuação é Geoffrey Rush ("Piratas do Caribe", "O Discurso do Rei") e Emily Watson ("Cavalo de Guerra"). Os atores aproveitam seus ótimos personagens para fazerem ótimas caracterizações e desenvolvimento de relações. As cenas em que os dois estão juntos são variáveis, às vezes são cômicas, às vezes dramáticas, às vezes tensas. Essa variedade ilustra a capacidade dos atores de mudarem o humor dos personagens sem parecerem forçados. A fotografia do longa é belíssima. A ambientação com neve, o rio servem de uma bela paisagem para os personagens. Estes cenários também são certeiros, porque lembram as construções da época. Existe um efeito especial no filme e este é mal feito. O efeito parece que foi feito às pressas e de qualquer forma não alterou muito o rumo da trama. O figurino serviu para ilustrar a moda da época, os uniformes rígidos. A trilha sonora é de John Williams. Ela é constante e melodramática, porém sente-se a falta de um hino para o filme como o compositor fez em "Indiana Jones", "E.T. - O Extraterrestre", "Harry Potter", "Star Wars". Nessas obras citadas quando toca-se a música tema de qualquer uma delas já sabe-se a qual delas pertence. Porém no atual trabalho, John Williams não apresenta nenhuma música que grude na cabeça e a trilha chega a ser repetitiva e monótona.

O filme apresenta suas situações divertidas, mas trata-se de um drama. As situações dramáticas são resultado de uma boa apresentação e construção de personagens. Se você vai ao cinema esperando ver um novo tipo de "O Menino do Pijama Listrado", o filme te dá muito mais. "A Menina que Roubava Livros" apresenta uma história dramática bem construída e que não é forçada, fazendo uma crítica ao nazismo até nos mínimos detalhes.

Nota: 

- Demolidor

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