quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Crítica de "Fruitvale Station - A Última Parada"

No dia 31 de Dezembro de 2008, a história de Oscar Grant chocou o mundo, principalmente pela violência desnecessária praticada pela polícia de São Francisco. Não contarei o que aconteceu, pois isso seria um spoiler do filme, mas provavelmente você conhece a história. O filme acompanha Oscar Grant (Michael B. Jordan) que perdeu o emprego onde trabalhava. Ele decide contar para sua mulher Sophina (Melonie Diaz) apenas no último dia do ano. Nesse dia também é aniversário da mãe de Oscar, Wanda (Octavia Spencer). Após o aniversário de sua mãe, Oscar e sua mulher decidem assistir os fogos de artifício na cidade. Para isso, eles e seus amigos pegam o metrô que mudará para sempre a suas vidas. O filme, como já dito, é baseado em fatos reais.

O roteiro do longa é bem escrito. O estreante em longas-metragens Ryan Coogler é responsável por ele. O roteiro consegue deixar bem claro a situação de Oscar no trabalho, além de desenvolver excelentemente a relação dele com sua filha, com sua mãe e com sua esposa. Essas relações são essenciais para a carga dramática que o final proporciona. Além disso, a estrutura narrativa usada no longa é simples, mas eficiente. Se você for pensar que o roteiro concentra-se apenas em um dia, a estrutura narrativa é muito bem trabalhada, pois todos os fatos presentes são importantes para a história e, mesmo não possuindo ação ou intriga, o roteiro prende o espectador a todo momento. O personagem principal tem suas características bem apresentadas e os seus pensamentos e sentimentos são explícitos. Desde o começo percebe-se que o longa é uma homenagem a Oscar, e isso é muito respeitável e admirável, mas mesmo sendo uma homenagem, o roteiro deveria apresentar não só as coisas boas dele, mas também as coisas ruins que o fizeram crescer como ser-humano e que poderiam ser um conflito a mais na história. A carga dramática empregada no filme foi boa, mas poderia ser melhor. Considerando a história tocante, o filme poderia explorar mais esse lado emocional, pois assim teria grandes chances de ser um excelente drama. Não é que o longa não empregue carga emocional, mas só somos apresentados a esta no final do último ato, onde (aí sim) o filme brilha e emociona.

A direção também é do estreante Ryan Coogler. Novamente, ele usa técnicas simples para contar a história. A câmera a todo momento foca em Oscar, quando ela não está mostrando diretamente o protagonista, ela está mostrando o mundo sob a visão dele. Isso funciona muito bem, pois serve para uma aproximação da realidade do personagem. O diretor também usa uma técnica muito usada na série "Sherlock", quando o personagem mexe no celular, a mensagem que ele está escrevendo ou o contato que ele está procurando aparecem na tela. Dessa forma, o personagem não precisa ditar o que está escrevendo. São esses pequenos detalhes usados em prol da história que tornam a direção eficaz. A fotografia do filme é regular, apesar de não ser muito trabalhada. Tratando-se de um filme realista, não existe maquiagem visível e o figurino é cotidiano. Existe um momento em que o longa apresenta um flash-back, porém foi mal trabalhado. O espectador só entende que é um flash-back quando a cena acaba e volta para o presente. Isso foi um erro, mas como só foi usado em uma cena, é tolerável.

O elenco foi bem escolhido. Michael B. Jordan (o possível futuro Tocha Humana) está excelente no papel. O personagem foi muito bem caracterizado por ele. As emoções, as incertezas, a raiva, todos esses sentimentos são passados de forma boa pelo ator. Além disso, o ator conseguiu criar uma identificação com o público, por demonstrar tanta intensidade em suas relações. As duas coadjuvantes principais são Melonie Diaz e Octavia Spencer. Melonie Diaz ("Rebobine, Por Favor") está regular no papel de Sophina. Enquanto em algumas cenas as características são apresentadas de forma boa, em outras nota-se uma mudança repentina de personalidade. Octavia Spencer (Vovó... Zona) também sofre do mesmo problema, porém o saldo é mais positivo do que Melonie. Octavia interpreta bem as emoções da mãe de Oscar, porém (principalmente na cena do flash-back) existe uma repentina troca de humor que foi apresentada de forma forçada. O filme é um bom passatempo e possui um saldo positivo. Aliás, o American Film Institute até colocou o filme na lista dos melhores de 2013 (veja a lista). A crítica à ação dos policiais naquela noite é forte e consistente e a mensagem passada de que devemos aproveitar a vida ao máximo também é bonita. Os personagens são bem desenvolvidos, a história é boa, porém infelizmente eu acho que o longa não atrairá um grande público, principalmente por não possuir nenhum nome conhecido. Filme possui ótimos roteiro e direção, porém é prejudicado pelo erro na construção da carga dramática.

Nota: 



- Demolidor

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